nunca mais rosas mancharão meu ventre
Domingo, 26 de Março de 2006
As Palavras

São como um cristal,

as palavras.

Algumas, um punhal, um incêndio.

Outras, orvalho apenas.

Secretas, vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:

barcos ou beijos, as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,

leves.

Tecidas são de luz

e são a noite.

e mesmo pálidas

verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? quem

as recolhe, assim,

cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?

 

Eugénio de Andrade


Fotografia: autor desconhecido


Quinta-feira, 23 de Março de 2006
Sem palavras?

E há palavras e nocturnas palavras gemidos

palavras que nos sobem ilegíveis à boca

palavras diamantes palavras nunca escritas

palavras imposiiveis de escrever

por não termos connosco cordas de violino

nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar

e os braços dos amantes escrevem muito alto

muito além do azul onde oxidados morrem

palavras maternais só sombra só soluço

só espasmo só amor só solidão desfeita

 

Entre nós e as palavras, os emparedados

e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

 

Mário Cesariny, 1923

 


Fotografia: autor desconhecido

publicado por Mar às 19:18
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Quarta-feira, 22 de Março de 2006
Somos como árvores

Somos como árvores

só quando o desejo é morto.

Só então nos lembramos

que Maio traz em si a Primavera.

Só então, belos e despidos,

ficamos longamente à sua espera.

 

Eugénio de Andrade language=javascript>postamble();


Fotografia: Mar
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Segunda-feira, 20 de Março de 2006
Como?

Como escrever paixão sem ser assim?
Com o corpo nas palavras
Com os sentidos nos dedos
E os dedos sentindo
A paixão que ferve dentro.
Como fazer amor sem ser assim?
Como se cada vez fosse a última
E a última fosse a primeira
E o fogo ardesse dentro
Assim como arde na pele.
Como escrever amar sem ser assim?
Como escrever sem fazer amor?
Sem me entregar em cada poema
E dar-tos como me entrego
Incendiar as palavras
Como me incendeias o corpo
E arder no poema
Como ardo nos teus braços.
Como se cada poema fosse o último
E cada vez a primeira

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Sábado, 18 de Março de 2006
Dá-me

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Dá-me o teu mel
Dá-me o teu mosto
Dá-me o teu gosto
Dá-me o teu rosto
Dá-me o teu corpo
Dá-me o luar
A madrugada
Dá-me poesia
Dou-te o meu corpo
Que o pensamento
É teu só teu
Dá-me o teu pólen
Sou uma flor
A tua flor
Dou-te o meu mel
Dá-me essa brisa
Que tens nos dedos.
Tenho calor

Obrigado Carlos


















Fotografia: autor desconhecido


Volúpia

...

Trago dálias vermelhas no regaço...

são os dedos do sol quando te abraço,

Cravados no teu peito como lanças!

...

Florbela Espanca


Fotografia: autor desconhecido


Sábado, 11 de Março de 2006
...

Não disse tudo ainda

nem nunca poderia com palavras

libertar

o fogo original

que tenho a revelar

em ti

 

Helder Macedo in Poesia 1957-1977


Fotografia: Mar

publicado por Mar às 14:14
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Quarta-feira, 8 de Março de 2006
Nunca mais rosas

Nunca mais rosas mancharão meu ventre

Que desvendaste para poder partir.

Ganhei a vida quando te perdi.

 

(adaptado de Helder Macedo)


Fotografia: autor desconhecido
Pintura: Road - Portishead


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