São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal, um incêndio.
Outras, orvalho apenas.
Secretas, vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos, as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
e mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas, nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
E há palavras e nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras imposiiveis de escrever
por não termos connosco cordas de violino
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
Mário Cesariny, 1923
Somos como árvores
só quando o desejo é morto.
Só então nos lembramos
que Maio traz em si a Primavera.
Só então, belos e despidos,
ficamos longamente à sua espera.
Eugénio de Andrade language=javascript>postamble();
Como escrever paixão sem ser assim? Encandescente prefix = o ns = "urn:schemas-microsoft-com:office:office" />
Com o corpo nas palavras
Com os sentidos nos dedos
E os dedos sentindo
A paixão que ferve dentro.
Como fazer amor sem ser assim?
Como se cada vez fosse a última
E a última fosse a primeira
E o fogo ardesse dentro
Assim como arde na pele.
Como escrever amar sem ser assim?
Como escrever sem fazer amor?
Sem me entregar em cada poema
E dar-tos como me entrego
Incendiar as palavras
Como me incendeias o corpo
E arder no poema
Como ardo nos teus braços.
Como se cada poema fosse o último
E cada vez a primeira
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Dá-me o teu mel
Dá-me o teu mosto
Dá-me o teu gosto
Dá-me o teu rosto
Dá-me o teu corpo
Dá-me o luar
A madrugada
Dá-me poesia
Dou-te o meu corpo
Que o pensamento
É teu só teu
Dá-me o teu pólen
Sou uma flor
A tua flor
Dou-te o meu mel
Dá-me essa brisa
Que tens nos dedos.
Tenho calor
Obrigado Carlos
...
Trago dálias vermelhas no regaço...
são os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!
...
Florbela Espanca
Não disse tudo ainda
nem nunca poderia com palavras
libertar
o fogo original
que tenho a revelar
em ti
Helder Macedo in Poesia 1957-1977
Nunca mais rosas mancharão meu ventre
Que desvendaste para poder partir.
Ganhei a vida quando te perdi.
(adaptado de Helder Macedo)
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