Atravessámos a planície navegando onde o vento era fraco
e as flores da primavera tomavam estranhos coloridos
até sermos cercados pela terra.
À nossa volta
sobre nós
sobre cada coisa
ouvíamos sons imperceptíveis...
Dormimos por instantes sobre o cheiro da erva esmagada
sobre o morno da tarde
agarrados um ao outro por sonhos de roxo pincelados.
Transbordante é o dia!
Transbordante é o roxo!
Fotografia: Mar
o pombo correio voou arco-iris inconscientemente
no espaço aberto
fechado
em asas incandescentes
salpicou os ares
revestiu abraços de nuvens
em ténues rosas, azuis, violetas
revestiu novamente abraços em rosas
abraços em azuis
e
caiu
no
mar
debruçou
foi envolvido e disse:
... esfuma-me.... envolve-me.... ensopa-me...
Mar
Vou, mas deixo o coração contigo. Concorda com a minha alma. Rejubila a vida inteira. Sossega. Traz uma luz. Ajuda a noite a cair. Diz-lhe que a deixo cair em cima de mim. Cai. Larga-te no meu peito. Apaga a luz. Ninguém precisa de mim. Desliza em mim. Dá-me a tua alma. Concorda comigo. Dorme comigo. Precisa de mim. Deixa-te. Larga-te. Abraça-me e, sobretudo, faz de conta que não me deixas partir. Sossega. Vou, mas deixo o coração contigo.
Mar
Quem me dera estar aqui, neste jardim assim, neste recanto sem fim, rodeada de cheiros doces e acres. Apetecia-me estar na clareira onde estou, deitada no chão em que me deito, rodeada dos zumbidos e chilreios à minha volta. Com todos os zumbidos, chilreios, cheiros doces, cheiros acres, à minha volta: sem ti. Quem me dera conhecer-te como eles te conhecem. Estar sozinha. Aqui sozinha. Longe da minha casa. Longe de ti. Quem me dera ter mesmo chegado a este lugar para onde vim. Quem me dera saber escrever. Escrever-te um postal fazendo um esforço para me lembrar de ti. Talvez assim te esquecesse. Talvez assim. Quem me dera estar mesmo aqui. Ou aí nos teus braços tão bem vindos e tão quentes, de onde eu nunca, nunca saí.
Mar
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